segunda-feira, 22 de março de 2010

A inocência do gesto

Uma das coisas, aliás, que me encanta em si, permita-me que lho afirme, é a inocência, não a inocência das crianças e dos polícias, feita de uma espécie de virgindade interior obtida à custa da credulidade ou da estupidez, mas a inocência sábia, resignada, quase vegetal, dos que aguardam dos outros e deles próprios o mesmo que você e eu, aqui sentados, esperamos do empregado que se dirige para nós chamado pelo meu braço no ar de bom aluno crónico: uma vaga atenção distraída e o absoluto desdém pela magra gorgeta de nossa gratidão.

ANTUNES, Antonio Lobo. Os cus de judas: Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 2003, pp.26,27.

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