domingo, 17 de fevereiro de 2013

Uma canção que vem fundo


“Em tempos de chuva
pare de chover
chuva agora
cesse de uma vez”
cantava assim o menino.

“Boneco de pano
Teru Teru Bozu
peço a você
que pare de chover”
cantava assim o menino.

Ainda ouço esta canção
que vem de algum lugar
nem sei se vem de mim
se vem de outro lugar
sei que vem bem baixinho
bem devagarinho
sonolento
até que o menino
de olhos pesados
cai num sono profundo
e lá no fundo de sua alma
alguém continua a cantar

“Boneco de pano
Teru Teru Bozu...”


WebRep
Classificação geral
Este site não tem classificação
(número de votos insuficientes)

Nas ruas que jamais andei


Nunca andei naquelas ruas
da cidade em que percorri
de calças curtas.
Nem as calçadas
me reconhecem mais
as pedras em que marquei
um dia
cuja pisada penetrou fundo
mas outras pisadas do tempo
acabaram por apagar
os rastros que desapareceram.

As casas desapareceram
em que bebi em cada cortina
o cheiro de café quentinho
coado em coador de pano.
Não ficou a saudade
de uma cidade desconhecida
e das caras que vejo agora
quem serão realmente?

Gerações passadas
quando as caras também
foram mudando
e desconhecendo as caras
do passado.
Quando passeio
pela sacada nada mais tenho
nem amigos do passado
nem o passado existe mais.

Meus pais velhinhos
me convidam a retornar
sem que nada mais me
leve a voltar para lá.
Senão por eles
único sinal que um dia
vivi naquele lugar.

Assim posso andar
sem reconhecimento algum
sem ser reconhecido
transparente aos olhos alheios
como fantasma.
Talvez seja eu o único fantasma
que do passado saltou
e se assusta por não conhecer
ninguém.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Avenida Paulista

Caminha a Avenida Paulista
Num derradeiro caminho da multidão
Que se confunde e se funde
Nas múltiplas caras desta cidade.

Vieram de outro país
Mas aqui
Ninguém se importa com os sons
De suas palavras
Imigrantes do outro lado do oceano
Da Muralha da China
Dos confins da Conchinchina.

Sobremaneira as emoções
Explodem além das janelas
Em que se ouve tocado nas ruas
Uma melodia das grandes cidades:
Blues.
Enquanto na banca de jornal
A notícia marcada de sangue
Acaba em instantes.

Se as mágoas existirem
São esquecidas
Entre os ruídos de carros
Freando inesperadamente
Numa curva da esquina.