sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Amigo(a) para sempre

Nestes encontros da vida
Uma vida nova
Toma forma
Uma nova amizade
Numa amálgama
Ganha forma
Em que conversas
São conversadas
Em que confianças
São confiadas
E desta forma
Um amigo
Noutro amigo
Nasce sobretudo
Sobremaneira
Uma responsabilidade

Ter um amigo
É ter uma responsabilidade
Pelo outro
Como se o outro se confundisse
Comigo mesmo

Por isso
Um amigo é para sempre
Uma responsabilidade para sempre
Com a vida do outro
Com a própria vida
Com a vida comum

Por isso
Quando as amizades acabam
Acaba também a confiança
E a desconfiança nos torna
Mesquinhos
Pequeninos

Quando as amizades acabam
Somos imensamente
Irresponsáveis
Pelo outro
Por nós mesmos

As amizades jamais deviam acabar
Se um dia ela esteve presente
Em nossas vidas

Se acabou
Somos nós que acabamos
Como seres humanos
Sem nenhuma justificativa
Sem aplausos
No silêncio
E envergonhados

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O leitor de mãos

As mãos eram o que ele lia
Nunca banca montada na porta da loja
Toda freguesia
Homens e mulheres
Fazia fila
E dizia para uma
“Vai casar no próximo ano”
Para uma outra
“Vai ganhar na loteria”
Vendia ilusões
Vendia felicidade
Esperança é o que não faltava
Para o homem que lia
Só não lia suas próprias mãos
Ele próprio
Não acredita em suas previsões
Só servia para os outros
A quem não conhecia
A quem lia
Lia as linhas das mãos

domingo, 22 de janeiro de 2012

Batida da bola

Quando criança
Uma bola batia
Contra a parede
A bola voltava
A bola ia
A bola batida
Quanto mais força
Colocava
Ela ia e voltava
Por um longo tempo
Nada da bola cair
E ficava batendo
E a parede batia
E a bola batia
Numa relação cármica
Que tinha
Com aquela bola
E batia...
E batia...

sábado, 21 de janeiro de 2012

Se foi com o vento...

Para onde se retirou
Filomena
Que chegou sem avisar
Encontrou a porta aberta
Entrou e ficou
Fez carreira
Cantoria
Cantaria fez também
Um dia abandonou tudo
Amigos que tinha
Amigas também
Pela mesma porta
Se foi
Sem se despedir
Nem olhou para trás
Sem mais
Sem menos
Como vento passageiro
Sem saudades
Se foi
Filomena

Se perguntarem por ela
Ninguém sabe
Ninguém viu
Ninguém sabe por onde anda
Filomena

Pode ser até esquecida
Mas seus olhos gigantes de felina
Estes continuarão brilhando
Nas noites escuras
Olhos de Filomena

A chuva

Nem sei direito
Em tempos de chuva
Onde realmente a chuva
Cai
Se cai lá fora
Se cai dentro de mim
E este barulho monótono
É da chuva caindo
Cai a chuva devagarinho
Nem sei direito
Quem cai neste momento
Se é a chuva que cai
Se sou eu quem cai
Ou sou a chuva que cai
Incessantemente...

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Fingidor do nada

Nada mais havia naquela mesa
Em que me sentei um dia
Nada mais havia
Nem a sombra do passado
Que pudesse continuar tomando
Uma taça de vinho
Nada mais havia
Que pudesse me incomodar?

Justamente a falta de incômodo
Torna-se incômodo
Pela incoerência
Dos fatos
Pela desumanidade
Da dissolução
Dos laços intensamente
Vividos
Como nada mais disso
Fosse importante
E caísse na mais banal
Falta de importância
E fingimos
Nossa total deselegância

domingo, 8 de janeiro de 2012

Vida de ciclista

Numa corrida de bicicletas
Muitas são elas
Multicoloridas
Penetrando montanhas
Geladas
Montanhas rochosas
Sem se deter
Seja dia seja noite
Seja ventania
Correndo sempre adiante
Correndo em direção alguma
Correndo
Apenas correndo
Sem desistir
Desistir de viver
Desistir de continuar correndo
Ainda que se caia
Que se rebente
Machuque e quebre a perna
Machuque e quebre a cara
Machuque por continuar
Se equilibrando
E mudando a marcha
Subindo ladeira
Vencendo porteiras
Criando amizades
Brigando e fazendo as pazes.

Mas às vezes
Alguém desiste
Não quer andar mais
De bicicleta
Nem quer mais
Viver perigosamente
Prefere acomodar-se
Na própria indolência.

Aos que desistem do caminho
Fica-nos a lembrança
De que um dia
Caminhamos juntos.
Continuo pedalando
Pois nada sei do que pedalar
E cair continuamente
Até aprender a pedalar
E não cair mais.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Encontros e desencontros

Encontros tão simples
Sem marcar hora
Sem marcar encontros
Sem saber
Encontramos
E ficamos amigos
Por um longo tempo
Falamos
E trocamos informações
E ficamos sabendo
Uma vida inteira
E achamos que o encontro
Perdurará para sempre
Amigos para sempre
Mas nos apaixonamos às vezes
E com medo ficamos
Vai-se a paixão
Ou fica-se eternamente
Sem amizade alguma
Desencontro para sempre
Como um dia veio
Um dia se foi
Pela porta da frente
Pela porta de trás
Sem nada falar
Ou por falar demais.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Um sonho inútil

Um sonho que acaba
Assim que um acaba
Um sonho novo
Vem em seguida
E achamos que nesta vida
Livramo-nos dos sonhos
E das ilusões
E temos certeza
Imensa incerteza
Quando mais a fundo ficamos
Sonhando
E por isso
Nada mais irreal
Do que viver na real
Deste mundo imundo
De poeira abstrata
Que se instala
Comodamente
Na Inteligência humana.

Caindo no fundo do sonho
Caindo numa casca de banana
No fundo
No raso
Pouco importa:
Quebramos!