domingo, 30 de setembro de 2012

Tufando


Em casa, o silêncio solitário
É quebrado apenas pelos gritos agudos do vendaval
E a violenta dança das árvores a segui-lo.
A chuva chega em golpes surdos chacoalhando as janelas.
Ah, o desconforto da vulnerabilidade!
Hoje, a noite é de Lua cheia
Mas, lá fora, apenas a escuridão.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O poeta


Adrenalina do poeta é andar na corda bamba
da realidade à irrealidade,
confundindo os nós que grudam as pontas
de pequenos fios singelos,
tecidos à mão em dia e noite
e retirados das vidas
que se esfacelam diante de seus olhos
impotentes em ação
potentes em suposição
camuflados numa caneta
e recheados duma vontade
de não ter que andar numa corda bamba.

O poeta não escolhe
a não ser o pé que vai a frente.
sob o abismo da realidade nua
crua e cozida das dores e dos desamores.

O poeta apenas anda,
na corda bamba
dos fios de sua própria vida

Que saudades que tive

Que saudades que tive
da sua presença sublime,
de seu toque agraciador
em todos aqueles que necessitam
dum aconchego ligeiro.
Acalma os calores e traz a vida
Que saudades que tive
da chuva de primavera.

Sopro de gaita

É pelo sopro de uma gaita
que ele suspira a avida.
Em Dó entoa as músicas
que cantam os versos, imemoráveis,
De amores, desamores e não tão amores assim.
Uma pequena gaita prateada
que cabe num bolso,
esquece num só sopro
e muda uma história.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Mais um


Apenas um mais
Nessa corrente sem fim
Sem começo, nem fim.
E sem começo nem fim,
Quanto vale um?
Quanto valem cem?
Quanto valem mil?
Vale apenas um mais
Que no fim nada vale de mais
Vale apenas um
Apenas um e nada mais.


terça-feira, 11 de setembro de 2012

Mil

Mil
não um, nem dois... Mil

Um, zero, zero e zero, que é diferente de
zero, zero, zero e um.

milésimo poema deste blog.
Como saber se as escolhas da nossa vida são certas?
Não há como. Apenas apreciar o momento e deixar nossa vida ser levada pelo vento, pois somos o próprio vento.

Kannon sama


Como me mover diante desta compaixão?
Deste grande coração que indiscriminadamente tudo envolve?
Até minha cegueira desordenada,
calibrada no auto-realizar,
duvidosa e cheia de dúvidas.
Alimentada por uma avalanche
sinestésica informada em sociedade.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Rama seca


A rama seca
Ali, à espera das águas de uma primavera inalcançável,
sustentada pela terra, agora quebradiça
e empedrada pelos veios de uma cidade já morta.
Ah, rama!
És a única vida ali vivendo,
entregue ao movimento dos ventos.
Debaixo d'um céu azul,
não orando, mas sim esperando, apenas,
Que a água volte ao seu útero.

De pássaros e gatos


Há pássaros que não ficam em gaiolas.
Por mais que o homem pense o contrário,
alguns destes animais foram feitos para voar.
Despreocupados da chuva, do Sol,
do contra-vento e dos gatos.
Ora, os gatos são bonitos!
Quem dera, assim como me alimentei,
alimentar o gato
da forma naturalmente mais bonita!

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Quando o vento sopra

Descanso minha alma

Que alquebrado plana

Acima dos capins macerados

Pelo sol que amarela

A tarde desaparecendo.



Uma brisa que fresca

Sopra acalma neste instante

Todos os meus tormentos.



Quero ser também o vento

A levantar torvelinhos

Pelos caminhos não andados

Por qualquer pensamento.



Sem sair do lugar

Nunca pode-se fugir

De si mesmo

Deste lago anoitecendo

Que cada vez mais

Vou caindo

Sem terras em meus pés.



Silêncio é companhia

Que umedece os lábios

Que secaram

Das febres passadas.



Viver é cair profundamente!



Que faço agora

Pelas janelas infinitas

Abaixo do céu de nuvens

Escuras

Uma mulher de pedra

Dança.



Uma criança por trás

Dos ferros não sorri mais

E parou de brincar.



Mas haverá em algum ponto

Um velho a mastigar

Seu cigarro de palha.

Nada mais importa

Se nenhum sonho

É possível sonhar.

Se amanhã não existe

A manhã se fez neste

Instante!



Caminhante

Sem procurar nada

Caminho sem nada buscar

Senão avançar adiante

Onde levam meus pés

Que jamais caminham

Numa linha reta

Procurando por coisa alguma.



Sem chegar nunca

Nunca sai deste lugar

Nem há onde possa ir

Sou vento soprando

Sou calmaria parando.





Vaga lembrança

Por onde andava

Andava também

Um restaurante coreano

Quando parei havia

Apenas uma lembrança

Que dissipava-se

Dos amores que se foram.



Visita-me às vezes

Visita-me o restaurante

Coreano.



As árvores

Estes galhos enegrecidos

Avançam seus braços

Sobre os carros

Que trafegam neste instante.

Sem consolo algum

Numa abraço de morte

E sugando a seiva de sangue

Dos homens

Só verde ficou

Manchando o chão

De asfalto.



O destino tomado

Numa encruzilhada havia

Uma vela vermelha

Numa encruzilhada havia

Toda indecisão

Que direção tomar

Por isso ficou a chorar

Que decisão tomar

Não tomou

A velha queimou

E a vida se foi

Num soprar do vento

De um vento ladino.



No cal da desilusão

Pulsa incessantemente

No pulmão de cimento armado

O combustível queimado

Da fuligem dos carros

Que também pulsa

Em minha caixa de máquinas

Que falha a cada instante

Desta vida curta

Que só vale a pena

A vagabundagem poética

Das esquinas de minha

Cidade!



Soprar pelos cantos

Que politicamente

Incorreto

Seja uma contradição

Destes tempos

Em que os ventos

Em desalinho

Procurem pelos cantos

Um caminho

Possível.



Quando nada mais diz

O que restou das formas

Instaladas

Desta arquitetura

Inventada no passado

Do que uma porção

De palavras que faço uso

Para dizer tão pouco?

Sombra de uma pedra

Que rolou com a água

Mas a insolência

Insiste em ficar.



Vivo agora

Foi por um lapso passageiro

Que passou em minha vista

Um risco vermelho

Que pensei ter sido

O passado de minha vida.



Mas não tenho lembrança

Alguma

Nem foto antiga

Nem história para

Contar.



Nasci neste mesmo

Momento

Que passei a me esquecer

Quando foi isso!



Quanto ao futuro

Que bobagens pensar

Naquele que não sei

Se pode acontecer.



Amigo do vento

Pelas vias mais simples

Simplesmente deixei a vida passar

Passou por uma porta

Pela outra também

E ninguém mais pode segurar

A areia fina esvaindo-se

Pela boca de um funil

O guizo que toca nesta hora

Soprado pelo vento

Só toca agora

Só toca neste momento.