sexta-feira, 20 de março de 2015

A eternidade

O que pode ser a morte
Senão uma esperança
De que o dia torne-se
Noite.

À noite repousamos
O corpo dilacerado
De uma batalha
Que há vencedores
Tão arrogantes
De uma certeza.

Os perdedores tão raivosos
De terem perdido.

A noite fechamos os olhos
Machucados de tanta luz
E no total silêncio
Ouvimos
O som do universo
Pulsando.

A morte é metáfora
Diante da eternidade
Tão distante da finitude
Humana
Uma bolha de vapor
A se espalhar

Na poeira cósmica.

O mito e a submissão

Os deuses criaram
Os homens
Que criaram o mundo.

Os homens criaram
Os deuses
Que criaram o mundo.

Os homens pensaram ser
Deuses
Que criaram a fé
Que criou a crença
Fruto de toda ilusão
Que dividiu
Que estava unido.

Em nome dos deuses
Se matam homens
Alguns dos deuses
Se acham melhores
Querem submissão
De seus criados
Os homens querem submissão
De outros homens
Que resignados cedem
Criou neste momento
A dominação.


O rio desta margem

Às margens do Rio Sanzu
As crianças sem pais brincam
Montanhas de pedra levantam
Surgem os demônios vermelhos
Brandindo bastões de ferro
Bastões batidos nas montanhas
Que se desmancham em pedras
Margeando o Rio Sanzu.

As crianças choram
Ninguém se intromete
As montanhas derrubadas
Às margens do Rio Sanzu
Os demônios brandem
Bastões de ferro
Mostram seus dentes caninos
Olhos saltados e negros.

Surge Jizô
Brandindo um cajado das seis argolas
Os demônios vermelhos se vão.

Jizô acalma as crianças
Ergue de novo as montanhas
De pedra.
Jizô se vai
Até o retorno de novo
Dos demônios vermelhos
Brandindo bastões de ferro...



Desfiladeiro das Termópilas

                
Os Trezentos de Esparta
Trezentos são os escudos
Trezentos são as espadas
Sem medo da morte
A morte recebida no peito
Aberto a varar a tarde.

As flechas caíram
Em intermitente chuva
Escureceu
Veio a noite por instantes.

As andorinhas deixaram
De voar
Os lobos deixaram
De uivar
E veio o silêncio
Por todo o desfiladeiro
Derradeiro silêncio
Em que não havia mais
Nenhum sofrimento.

Os Trezentos de Esparta
Morreram em pé
Em colunas
Escudos levantados
Sem poder deter
As pontas de ferro
Rabeiras de penas de ganso
Milhares de flechas
Zumbindo no ar
As cordas vibrando
Os arcos vergados
Dos braços dos persas.

Sem cantar vitória
Milhares de persas
Deixaram Termópilas.

O canto do poeta exalta
Os Trezentos de Esparta

Que nunca morrerão.

Chá verde

Uma xícara de chá
Suave paladar
Suave amargor
Quente a estalar
Os dentes.

Uma xícara de chá
Tão verde suave
Suave amargor.

Uma xicara de chá
De sabor intenso
Suave amargor
Quente a estraçalhar
O coração.

Uma xícara de vida
Tão intensa e vivida
Neste exato momento
Suave perfume
Chá nas papilas.






terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Parabéns

Parabéns!

Desejo felicidade e amor,
Coragem e alegria
Oh meu terno amor.
Me odeias, mas eu sorrio
Agora sua felicidade é possível
Numa intensidade incrível.

Perdoe meu silêncio,
Mas saiba que aqui acendi uma velinha,
Numa pequena queijadinha
E num minuto de silêncio, ouvi o seu sorriso
Ouvi o seu choro oculto
Suas dúvidas enjauladas
E então não comi.

Espero que o amor te abrace logo,
E te envolva em densos fumos de ópio
Inebrie seus sentidos e me esqueça nas trevas do passado.
Pois o amor - ah, o amor!
É o remédio da vida,
A pomada das feridas,
Anestesia das dores doídas
A mentira mais batida.

Parabéns, e espero que seja mesmo feliz
Agora sem ironia, juro mesmo
Que se concretize tudo que você sempre quis.