segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Les mots ne sont rien

Faire la poésie est très facile
très facile de manipuler les mots ⎯
De mots et de leurs descendants à se débarrasser
du grand art

(em parceria com o Google Tradutor)

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A força do instinto

Não resista à natureza
Selvagem de cada um
Quanto mais selvagem ela for
Maior será o instinto de sobrevivência
Dos instintos mais irracionais
Como a capacidade de amar
Sem medir conseqüência
Em total irresponsabilidade
Frente às leis criadas pelos homens.

Como o amor é imoral
Não faz parte deste mundo
Imenso mundo
Em que as aparências
De um vidro opaco
Tal qual fantasma
Vaga como não existisse.

Somente na mente
O amor existe!

Para outros sítios

Uma vontade imensa de ir
Para outras terras desconhecidas
Onde ninguém realmente
Me conheça
Que me reconheça
Assim posso conhecer
A mim mesmo
Por isso tenho que esfriar
Os ânimos
Também os desânimos
E poder respirar
Profundamente o vento
Gelado dos mares gelados
Onde o mundo se acaba
Num farol desolado
Onde nem a tristeza
Tem mais vez
Neste lugar poderia
Ficar
Onde sempre fiquei
E nunca saí realmente
E como é quente
O aconchego
Ainda que tudo seja
Apenas gelo.

Encontro com o amigo

Nem muito alegre
Nem muito triste
Apenas o mesmo de sempre
Amigo de outras datas
Que por algum motivo
Justificado ou não
Ou por motivo algum
Novamente cruzou comigo
Sonhador era ele
Sonhador era eu
De poucas palavras
E muita poesia
Por fim por alguma pergunta
Atravessada ele disse
Com um sorriso luminoso
- Não me incluo entre os vencedores
- Sou perdedor!
Senti uma profunda dor
Ele era mais sonhador do que eu.
Meu sonho era o verso mais tocante
O dele o verso que não rimava com
A vida.

João dormiu

(veja os dois anteriores)

João já tinha criado tudo
O gato, o rato e o cachorro
A dor e a alegria
A vida e a morte
Também tinha criado o sono

Mas não podia fazer mais nada
Tudo já estava criado
Tudo já estava lá

João não podia nem mesmo perguntar a si próprio
Pois a própria pergunta já estava lá
Já estava feita em algum lugar

João percebeu que tudo já estava lá
E que sempre esteve
E então foi dormir
Sem mesmo sua mãe mandar.

A pergunta do João

(veja o anterior)
Uma vez o João perguntou a si próprio:

“Por que perguntamos tanto à nós mesmos?
Talvez perguntar seja do ser humano, né?
Será que minhas gatas perguntam para elas mesmas?
Acho que estou perguntando novamente, não estou?
Mas será isso o normal?
Se não, qual é o normal?
Então porque eu nunca soube o que é o normal?
Existe um normal?
Existe algo não normal?
Será que estou sendo confuso?”

E assim ele também criou o questionamento.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

João criava castelos

Casa, prédios
Criava pessoas e animais
Pessoas animais
E animais em pessoa

João também criava
Plantas, árvores
E tudo aquilo que nascia
E que morria
Ele criou a vida
Para ser morta
Pela morte
Que teve que vida pelas mãos de João

João nos criou
Mas não criou eu nem você
Apenas a nós

João deu giro à Terra
Que gira o mar
E gira o ar

João criou a dor, que dói
Criou a areia
E o castelo na areia

Criou também
Aquilo tudo
Que ainda não tem nome

Mas tudo se foi
Na mesma intensidade com que foram criadas
Quando chegou sua mãe
E o mandou dormir!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Uma vida em vão

Sei
Não nasci no melhor dos dias
Nasci com pé esquerdo
Num dia em que bruxas
Andam soltas em suas vassouras
Cruzando o céu e amaldiçoando
As famílias bem constituídas
Dessas em que o figurino
É medida certa.

Sei
Nunca fui aplicado nos estudos
No trabalho fui vagabundo
Muito fraco nas letras
Também da cabeça.


Sei
Pecador fui no maior dos tempos
Não mereço nada melhor
Do que um caldeirão fervendo.
Das coisas que tinha perdi
Dos amores que tinha perdi
Perdi tudo numa mesa de jogo
No jogo da vida
Nada tenho mais
Mas mesmo assim
Uma única coisa
Que não podem tirar de mim
Meu direito ao sonho
Deste ninguém pode
Me tirar
Nem que me matem
Me esfolem
Me coloquem de ponta cabeça.

Cada vez mais velhos

Quando começamos a dar
Conselhos algo começou a mudar
Não apenas novas rugas no rosto
Nem maior inteligência
Mas uma crença de que os equívocos
Cometidos por nós mesmos
Os outros não precisam cometer
A vida não pode ser ensinada
Melhor ser vivida
Em toda a sua ilusão
Com o coração enorme
Que todo o amor possa ser
Preenchido nele
E depois esvaziado
Para nada mais sobrar
Nem a sombra do passado
Que não passa de um orvalho
A despencar e o mundo
Refletido nele
Desfazer em segundos.

Quando começamos a dar
Conselhos estamos mais velhos
Menos susceptíveis aos dilemas
Da vida
Nem por isso conformados
Ficamos verdadeiramente
Mais cínicos
Apenas cínicos.

Manhã no parque

Canteiro municipal -
o Sol acende
a clorofila das iridáceas -
Drosófilas minúsculas
se arriscam entre
rosários de orvalho
sonhados em teias -
Fios e raios iridescentes
costuram as folhas longas
e curvas num balanço -

Em cambalhotas quadradas (aos trancos)
Chega a folha do jornal de ontem
(lida pelos ventos e rajadas)
desfolhando o silêncio nas calçadas
...

Assim é olhar agora
mas é só/

.

domingo, 22 de agosto de 2010

Mentira que contamos

Passamos a maior parte
De nossa existência rapina
Contando mentiras
Sobretudo para nós mesmos
Como pudéssemos nos convencer
Da própria mentira que contamos
E fingimos que gostamos
Daquilo que não gostamos
E fingimos indiferença
Daquilo que amamos
Só por temor
Da verdade que arde
Em nossas entranhas
E depois fere as paredes finas
De nossas hemorróidas
E mentimos que nada temos
Por uma vaidade insana
Em demonstrar uma potência
Que não temos
Por medo do sofrimento
Mas a verdade é sempre sofrida
Nem totalmente bela ela é
Por isso a mentira agrada mais
Em mostrar uma aparência
Outra.

Força indomável

Mesmo quando não a queremos
Que é a maioria das vezes
Ela pode entrar
Sem percebermos
Assola nosso dia
Sem mais nem menos
Nosso semblante murcha
Vontades se não se deixa desfazer
É a de ficar só
Só, parado e coberto
Não há vontade de querer ver o mundo
Só a TV
Nada te anima
Ou tira de lá
É mais forte que a gente
O que fazer?
Sobre uma força que nós não dominamos
Que frustração para a raça humana
Não assumirmos o controle
De algo que não é da nossa vontade
Algo tão comum aos seres sapientes
Querer comandar
Mas que coisa!
Mas que gripe!

sábado, 21 de agosto de 2010

Coisas que não se esquecem

Em nenhum momento
O esquecimento realmente aconteceu
Se quisesse ainda esquecer
Como podemos esconder
Das marcas deixadas numa árvore
Tantas vezes o seu nome.
Como podemos esconder
Das marcas deixadas na alma
O sussurro ao vento.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

...




Reticências:
Síntese simples
Emoções complexas



Criança debaixo do Sol

A criança brincava
Até seu último pingo de energia
Até o último raio de Sol
Sem pensar em nada
Nem pensar em brincar
Até o fim do Sol chegar
E assim que a lua imperar
Ir para casa
Continuar a brincar
De que o Sol agora está lá
Nos seus sonhos de criança
Que não pensa em brincar
Não pensa em crescer
Nem pensa no brócolis
Que tem que comer
Coma garoto! Dizia sempre sua mãe
Corra que os invasores do espaço estão vindo!
Escutava o garoto
E até o último resquício de Sol
Pois jamais antes do Sol
Sua energia acabava
Brincava e brincava

Pipa que rodopia

Nunca consegui empinar pipas
Cuja linha lançada no espaço infinito
O menino ao céu subia
Tremeluzia num bailado
Que durava a tarde toda.

Nunca consegui empinar pipas
Mas a felicidade do menino que empinava
Tamanha era o seu coração
Que nele o mundo cabia.

Nunca consegui empinar pipas
Nem meu coração não é tão grande
Nem grande é o meu amor
Pelas pipas coloridas e alegres.

Nunca consegui empinar pipas
Como isso fosse tão importante
Assim!

A bola vermelha

Quando tinha quinze anos
Uma bola vermelha lancei
Num tanque profundo
Foi ao fundo com todo seu peso.
Quando as rugas começaram
A marcar o meu rosto antes jovem
Uma bola vermelha submergiu
Lá do fundo de um poço.

Quando tinha quinze anos
Uma melancolia da incerteza
Visitava-me todas as noites.
A mesma melancolia sem certeza
Alguma agora me visita dia e noite.
Nunca me esqueci da bola vermelha
Que me foi dada por uma menina
De olhos enormes e fumegantes
Nunca me esqueci da menina
Mas ela de mim se esqueceu.
Só tenho melancolia
Como amiga
Quando nenhuma outra
Achega de mim.

Sem dor no silêncio

Uma pedra no rim
Pode doer muito
Um espinho no pé
Pode doer muito
Doe muito mais
Quando as palavras
Confundem no desencontro
Dos corações que não se encontram
Mais.
Quando as palavras
Incomodam
Deixamos que o silêncio
Fale por nós.

Caminho a incerteza

Ainda que um dia
A morte me visite
Não terei ilusões
Da vida iludida que levei
Em cuja casa de máquinas
Impulsionado pela eletricidade
Do atrito das peles polarizadas
Levantei e andei.
E continuo andando
Sem saber para onde ir
Posso caminhar em destino incerto
E cair num abismo
Profundo de minha existência.
Meus sapatos rasgaram
De tanto andar
E não chegar a lugar algum
Pois nunca saí do mesmo lugar
E parado continuo
Recebendo o orvalho em meu rosto
As pedras que não ferem mais
Pois ferida alguma se compara
Àquela que se tem
No mais fundo da alma.
Uma ausência que outrora
Não sentiria
Esperança que se tornou
Confetes carregados pelo vento.

Viver para quê!

L'homme est une passion inutile

Jean Paul Sartre

Amor, Amor

Quando o mar
quando o mar tem mais segredo
Não é quando ele se agita
Nem é quando é tempestade
Nem é quando é ventania
Quando o mar tem mais segredo
É quando é calmaria
Quando o amor
Quando o amor tem mais perigo
Não é quando ele se arrisca
Não é quando ele se ausenta
Nem quando eu me desespero
O amor tem mais perigo
É quando ele é sincero

Sueli Costa/cantada por Maria Betânia

O Homem desiludido

Diu Welt ist ûzen schone,
Die Welt ist aussen schön
O mundo é belo por fora.

wîz grüen unde rôt
weiss, grün und rot
branco, vermelho e verde.

Und innân swarzer varwe,
Und innen von schwarzer Farbe,
E dentro de cor preta,

vinster sam der tôt.
finster wie der Tod.
e escuro igual a morte.

Walther von der Vogelweide

Sem razão

Nihil est sine ratione

Vivendo radicalmente

Se esta viva insana
Pudesse ser vivida inteira
Sem fazer escolhas
Totalmente vivida
Com tudo de bom
Com tudo de mal
Anjos e demônios
Sem distinção alguma
Aceitando o vento certeiro
Das paixões repentinas
Que após sua passagem
Deixa um campo de destruição
Poderíamos subir no torvelinho
De um imenso furação
E ver dentro todo o inferno
E ver que até mesmo
Aquele que lá habita
Possui beleza e fala a verdade
Como ninguém falou antes.
Somente quem viveu assim
Pode falar a respeito
Da força imensa do ribombar
Do trovão.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Fogo do coração

O fogo que nesta terra arde
Em gases sulfúricos
A tudo consome.
Se pudesse apagá-lo
A terra toda morreria
Numa torrente glacial
Nada mais restaria
Gramíneas rasteiras
Inclusive os escorpiões
Que preferem radioatividade
Da energia explodindo
Nos tambores sem proteção.
Escorpiões somos
Para a vida
Venenosamente vivida
Em toda sua falsa moderação.

Ferreiro e a ferradura

Uma inquietação solenemente
Percorre a sala de minha existência
Que nada tem de muito especial
Senão uma dor que não sei de onde vem
Só para incomodar
Uma tranqüila decadência dos corpos
Cada vez mais rotos de uma cinza escura
Fuligem do tempo que chegou
Neste instante.
Não resta mais do que
Numa cadeira de balanço
Acariciar o pelo negro da gata
Esta que confunde a noite
Para então fundirem
Numa amálgama metalicamente
Fria e dura.

Diante dos olhos de veneno

Um pouco de veneno há
Em cada punhado de sal
Nas maçãs vermelhas
Como porcelana
Que brilham e encantam
Aqueles que têm o coração puro.
Somente os impuros estão imunes
Pois nenhum veneno pode lhes fazer
Mal.
Nenhum veneno pode ser um mal
Maior do que a desconfiança
Na maçã que outro lhe dá.
O veneno que encanta
A verdade que encanta
Nos olhos que se cruzam
E das bocas palavra alguma.

Noites tenebrosas

Por que temer minha presença
Se nada de mal posso lhe fazer
Se me encontro distante de seus olhos
E indiferente possa viver.
Mas vivo realmente em sua mente
E não há remédio suficiente
Para me destruir.
Sou a chama que arde
E não quer se apagar
Mas você se alimenta
Desta mesma chama
E não quer me matar
Sou o demônio de suas paixões
Que semeia o campo do conhecimento
Das noites tenebrosas
Que assusta somente você.
Justamente nas noites como esta
Que se pode ver mais claramente
Não com estes olhos
Com os outros da alquimia
Do anoitecer.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Por dizer a verdade

Se tivesse que morrer agora
Seja de uma gripe espanhola
Seja de infra-estrutura
De hiper-inflação
Também de hipertensão
Como viveria meus últimos dias?

Afinal vivo meus últimos dias
Como vivo minhas últimas horas
No dia de hoje
Melhor
No dia de agora
Como se as horas
Não existissem mais.

Teria a coragem de viver a verdade
Ou me esconderia
Por detrás dos escudos da miséria
De uma mentira
Mentida para mim mesmo?
Para os outros.

Sempre as mentiras
São mais cômodas
Para se viver.
Sempre as verdades
São mais cômodas
Para se morrer.

Podemos viver
Como fôssemos morrer
A cada instante de nossa vida.

Os poetas morrem
Em seus versos
Morrem por dizer a verdade
E nada têm a perder.

Velhos e delinquentes

De repente deparamos
Que a juventude se fora
E continuamos agindo ainda
Como fôssemos delinqüentes juvenis
Em sua mais ampla irresponsabilidade
Social e política
Por medo de ver refletido no espelho
Uma face que deixou de ser nossa
Desconhecida
Destorcida de toda realidade
Que continua fingindo
Uma emoção que não é mais sua
Nem sua é a alegria
Disfarçada no canto da boca
Em riso amarelo
Que a ninguém mais engana.
Crescemos o suficiente
Para termos rugas
Só não temos
Não temos vergonha
Da farsa que continuamos
Representando
Como mal ator
Atrizes de um teatro mambembe
Para divertir
Os loucos livres de qualquer
Censura.

Dizer é calar pela eternidade

Por quantas vezes errei
Somente por falar demais
Quando a fala se fez necessária
Poderia ter me calado
E os excessos de uma palavra mal
Colocada
Evitaria mal estar em toda população
Ainda que a intenção fosse boa
Não foi bom o entendimento
Que de mal entendido
As bocas se calaram de vez
Tarde demais.

Mas no silêncio purificador
Nenhuma palavra vem a calhar
Que penetrando fundo
Lá no fundo da alma escura
Nenhuma luz é necessária
Nem nada
Apenas a síntese
Da união que dispensa
Qualquer explicação
Que não necessita
De palavra.

domingo, 15 de agosto de 2010

A inutilidade do desespero

Não existe mais alegria
Nos olhos dela
Como outrora se fazia
Nem o brilho está mais presente
Quando se faz presente
Uma desconfiança atroz
Que percorre a linha do horizonte
Cada vez mais distante
Dos olhos que tanto
Queria bem.

Quando a inocência da alma
Perdida fica
Por causa estranha
Toda a vida se torna nublada
E nubla também toda a existência
Da alegria de viver.

Cada vez mais sozinho vai caminhando
Numa estrada de espinho
Tendo por companheira
A solitária sombra da noite
Fulguras de pirilampos
Ofuscando um sonho
Dentro de um sonho de outro.

Errantes somos passageiros
Do tempo
Que erramos na geografia
Que erramos na história
Sem encontrar o encontro
Que perdido ficou
Para trás.
Nem o choro mais consola
Diante da estupidez
Desta vida escrita num papel de seda
Desfazendo-se na correnteza
De nossa vida curta.

Experiência no dia-a-dia

“A expressão do que sentimos é o exercício que prova a vivacidade da alma e o amor que esta tem pelo mundo.”

E foi justamente essa
Que expressou o que tinha que expressar
De coração para coração
Pura expressão

Felicidade, alegria
Tristeza, melancolia
Frutos de um mesmo experimentar
Só a pureza da expressão

E nos versos a rimar
Da tentativa desprovida
De uma ousada vitória
Percorrendo o caminho dia-a-dia

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Conto retrato - O fim da infância

Ele já não enche mais a casa de alegria.
Naquele fim de tarde, entrou pela porta a fora
os olhos secos como vidro, as mãos trêmulas
cheiravam a gasolina, queria se esconder...

Compra-se de tudo

Tristes são os tempos
Que alegria se compra
Em farmácias
Como tudo pudesse
Ser comprado
Como prozac.

As amizades também
São compradas
Alguns compram
Até o amor
O amor de uma mulher loira
Que nada tem de loira
Que comprou a tintura
Numa loja de tintas.

Alguns compram horas
De alívio de consolo
Num divã do analista
Como que aquilo resolvesse.

Outros ainda
Visitam as mulheres das cartas
Dos guizos e guias coloridos
Como que pudessem comprar
A felicidade de suas vidas.

Tudo pode ser comprado
Menos a liberdade
De nada mais comprar
Mas pode ser negociado
Por algumas moedas...

E sem liberdade
Continuam comprando
Numa esquina qualquer
Suposta felicidade
Felicidade de comprar.

As legiões de baixo

Nada pode ser mais verdadeiro
Do que deixar as portas dos porões
Abertos e deixar sair legiões
De títeres manipulados por mãos
Invisíveis de um teatro ambulante
Parado em praça da Babilônia.

Serão estes malabaristas
Com suas bolas coloridas
Serão também feiticeiras
Cortando o céu em suas vassouras
E rindo de toda seriedade
Que supostamente
Existiria no mundo.

Nada mais risível do que
O sério de cara pintada
Numa maquilagem social
Artista social
Que equilibra numa corda bamba
Um equilibrista social
Que tenta ser sério
Quanto mais sério
Mais engraçado.

Que pode ser mais engraçado
Do que o terapeuta
Que vive da doença social
Imoral da classe média
Que na média nada cura
Nada sara
Pois nada há para sarar
Da paciente que pensa que cura
De uma doença que cura não há.

Temerosos sãos os demônios
Que põem o mundo ao avesso
Por isso devem ser presos
Novamente no porão
Como eles não existissem
Até que novamente
As portas sejam abertas
Para que alegria seja restabelecida
Dos arlequins e colombinas
Numa dança sobre as sombras
De uma ordem corrompida
Dos que fingem seriedade
Da moral e bons costumes
Da cultura elevada
Da religião institucional
Que teme
Que geme diante
Dos seres que habitam os porões
Profundos e frios
De toda existência
Acima e abaixo.
A verdade seja assim
Um pouco abaixo
Da linha do Equador.
Da cintura para baixo
Onde a vida se forma
E o prazer pela vida
Verdadeiramente vivida.

A morte é a sorte dos vivos

Meu estranho amigo

Encontrei pelo caminho
Um demônio entristecido
Que pedia apenas um amigo
Qualquer um que fosse
Podia ser coxo
Podia ser cego
Mudo e surdo
Desde que fosse amigo.

Ninguém queria ser
Amigo dele
Quem perto dele chegasse
Atiravam pedras
Praguejavam
E cuspiam
Quase enojados.

Encontrei pelo caminho
Um demônio entristecido
Que pedia apenas um amigo.

Que podia fazer por ele
Que podia fazer por mim
Senão dar-lhe minha porção
De arroz e feijão.

Mas ele queria apenas
Conversar
Queria apenas um amigo
O que poderia conversar
Com um demônio.

Minha vida foi vazia
Sem nada especial
Pedia esmola pelos caminhos
Ninguém dava
Ninguém se importava
Apenas o demônio
Queria ser meu amigo.

Dia de ventania

Nem sempre é sexta-feira
Nem sempre é sexta-feira treze
Nem sempre é sexta-feira treze de agosto
Quando sopra o vento
E o movimento das rodas de vento
Novamente ventania se faz
Varrendo debaixo dos vales
Uma calmaria das batalhas perdidas
E que cadáveres de guerreiros ainda
Vestem suas armaduras
Protegendo-se dos ataques
Dos abutres com ânsia de carne humana

Que todo dia seja
Finalmente
Sexta-feira treze!

Tormento

Isto eu não suporto
o silêncio, o intervalo, o imperfeito
eu não aceito. É pouco, é menos
que o desejo, pra mim

A fadiga dos meus olhos, o corte
nas pálpebras, os cilhos, o cansaço
da existência, sem parada, sem chão
uma tortura, uma vida, tormento

O que é isso? Agora é a alegria? Então
o que era se não era dor e sofrimento.
e eu não quero este silêncio, essa lágrima
por cair

Caminhar preciso

Uma procura insana
Por aquilo que sem sei
Nem sei o que seja
Nem que seja algo procurado
Vivo ou morto
Por esta longa caminhada
De pés descalços
Em que caminhar se tornou
Uma alegria dos caminhantes
Se tornou
Um sufoco dos que
Caíram pelo próprio caminho.
Uma procura que
Após seu abandono
Quem sabe será
O encontro
Do que nunca saiu
Do lugar.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Quando vem o silêncio

Quando se silencia
Pode ser qualquer coisa
Ou coisa alguma.

Antes mesmo da palavra
Ser criada
Mas se criada uma vez
Deixa a palavra para trás
Para novamente vir
O silêncio
E falar todas as línguas
Isento de uma língua que seja
Assim o entendimento
Se torna
A única palavra existente
Sem nada explicar.

摂心

Selam-se os portões da mente.
Deste momento em diante, apenas o silêncio.
Apenas o silêncio é o caminho.
O silêncio do vento, das folhas farfalhando
O silêncio das crianças jogando bola na quadra do vizinho
O silêncio do louvor evangélico declamado com ardor
O silêncio do rádio fora de sintonia narrando o jogo do mundial
O silêncio da pressa urbana da cidade que não pára.

Apenas o silêncio.


Mu

Circunvendo as curvas da vida
Contornando as formas vazias
O que se encontra ali dentro?

O suspiro efêmero do agora
É o único remanescente
Do silencioso vento tempestuoso
Da insustável impermanência



L'Amore



L'Amore
È bello così
Lontano
Distratto
Muto
Disegnato
Impensato
Sognato
Immaginato
Fitizzio
Astratto
Semplice
Infondato
Senza rumore
Passionato
Senza parole
Cantato in silenzio
Senza fiato
Ballato nell'aria
Senza respiro
Macchiato per el sacro

L'Amore
È bello così
Oppure, sarà soltanto
Un'altra parola digesta
Rigettata per bocche sporche
Come tavola di primo ordine.


Reinado

Sentado entre orquídeas e papoulas
olhos longe, pupilas azuis
as mãos cravejadas de jóias
uma a tocar o solo a outra em gestos congelados
Mandava e desmandava o príncipe do sinal vermelho
Era a sujeira da praça-ilha no asfalto-mar
sujeito das bordas da cidade Não
Monarca absoluto daquilo que um dia
se convencionou chamar abandono

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Palavras fora de lugar

Tá tudo acabado
Como que tudo pudesse acabar
Por uma vontade insana
Pudesse ser tão simples assim.

Mas valeu pela intenção!

domingo, 8 de agosto de 2010

sem título 5

Dia dos pais.
A velha dedicatória
num livro esquecido.

A imagem sem mão

A imagem de Kannon
Dourada que enfeita meu altar
Falta-lhe uma mão
Mesmo assim ela brilha
Toda sua beleza interior
E sem mão
Toda sua beleza exterior.

Em Kannon falta-lhe
Uma mão.
Em mim falta-me
Todo o brilho da compaixão.
E sem entendimento
Sofro as intempéries
Da paixão repentina
Da febre repentina
Que desnorteia
E derruba-me ao chão.

A inutilidade da vida

As margaridas que tenho
Diante
Frescas e deslumbrantes
Em poucas horas
Nada mais serão
Do que flores secas
E serão
Totalmente descartadas
Desprezadas
Como inúteis.

Inútil também o poema
Que escrevo
Cuja beleza somente
Passageira
Quando escrevo
Sem nada ganhar
Sem nada agradar.

O teu nome que gravo
No tronco da bananeira
Para nada serve
Senão que serve
De alimento às larvas.

Ainda bem
Que nada serve
Para nada
Assim continuaremos
Fazendo aquilo
O que não serve para nada
Como condição da existência.
- E existir para que servirá
Afinal?

sábado, 7 de agosto de 2010

Jogo da amarelinha

Por muito tentei em vão
Esquecer-me de ti
Esquecer que um dia
Experimentamos juntos
O jogo da amarelinha
Foi quando perdi
E nunca mais pude
Esquecer-me de ti
Você me ganhou
Você quis ir embora
Embora quisesse ficar
Você ficou
E procura me ignorar
Que nem estou aí
Mas nunca saí do lugar
Nem você!
Por que você vive
Em mim.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Dos versos que construí

Sinceridade demais
Pode ser uma atitude
Nada recomendável
Um pouco de cinismo
Pode ser melhor
Num mundo de aparências
Cuja transparência
Tornou-se um impedimento.

Nada mais cínico
Do que o poeta
Que deseja agradar apenas
A desagradável sensação
De dizer
Aquilo que não disse
Seu coração.

Que triste quando
Poetas não mais disserem
Da magia transformadora
Dos versos
Inversos
À política do correto
Incorreto seria então
Construir a forma
Destruir toda hipocrisia
Da boca para fora.

Sem enxergar

Ofuscado por essa embriaguez
Meus olhos já não enxergam
Nem mais uma vez

Deixam de enxergar meu mundo
Pra enxergar o seu
Muito mais profundo
Que o meu
E mais bonito também

E é nesse instante que somos um
Ofuscados por esse sentimento
Não só nesse momento
Mas em qualquer um

O serviço da poesia

Quando a explicação
Se torna desnecessária
Qualquer explicação que seja
Nada mais explica
Senão palavras postas
Fora de lugar.
Melhor se calar
E o silêncio nada explica
Senão o próprio silêncio
Em total harmonia
Com todos os contrastes.

Para os poetas passionais
Em que se expressar
É condição para se viver
Então morrer nas palavras
É viver na eternidade.
Mas este não merece a eternidade
Merece a palavra
Com toda ambigüidade
E confusão.
Se todos pudessem ler
Poesia
Apenas como poesia
Nenhuma confusão mais
Teria
Pois poesia é do espírito
Acima das nuvens
Bem acima
De todas as impurezas
Deste mundo
Confuso
Só a poesia cria ordem
Não do mundo
Mas
Da própria poesia
Que purifica a mente
De toda impureza
Que nunca mente
Nem finge
Que sente o palpitar
Constante do coração
Coração errante e desiludido.

Um gato apenas

Que sensação mais estranha
Foi esta
Em meu caminho de volta
Havia
Junto ao lixo atirado
Um gato morto.

Um gato amarelo
Que parecia dormir
Mas dormia para a eternidade
Que insensibilidade era
Esta de atirar fora
Um gato que morrera.
Que podia fazer agora
Diante daquele gato
Que não merecia tanto
Tamanho desprezo era
Atirado fora.
Me senti fora
Naquela hora
Que poderia fazer
Senão contemplar
Triste
Como um idiota
O gato
Atirado fora
E orar por ele
Era um gato apenas
Eu era
Um impotente apenas
Menor do que
Aquele gato.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Não mais teu olhar

Aprendi a olhar o seu olhar
Depois de tanto te fazer chorar
Se orgulhar
E mergulhar num mundo de fantasias

Agora eu choro (até morrer)
Pelo tardio instante
Em que resolvi aprender
Que isso me sirva de lição

Agora que nada te faz me olhar
Busco um olhar só pra mim
Pra encher o vazio
Que fiz assim

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A mentira das palavras

Não devemos confundir
Os sentidos das palavras
Que podem ter outros sentidos
Do que aquele sentido
No calor do erro cometido.
Se as palavras pudessem falar
A verdade em sua totalidade
Ainda assim não falariam tudo
Pois a verdade não caberia totalmente
Numa palavra.
As palavras são sombras
Em que nos abrigamos
E acreditamos que podem
Revelar totalmente a verdade
Mas a verdade não pode ser dita
Nem explicada
Se explicada fosse
Deixaria de ser verdade
Pois a verdade é apenas sentida
Pois a verdade é apenas experimentada
E somente quem a experimentou
Se calou
Pois se falar
Será uma outra coisa
Muito além do que seja
Verdade.
A verdade não se diz
E quem disse já mentiu.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Ventos da radiação

Uma lembrança sinistra
É lembrança que não me abandona
Uma fuligem atômica se espalha
Toda vez que chega agosto
Novamente aquele cogumelo imenso
Se levanta e anuncia a morte
Diante do terror das virgens de pedra
Que arregalaram os olhos
Hiroshima desapareceu
Nagasaki desapareceu
E ninguém se lembra mais.

Atropelamento do inseto

Pelos caminhos que percorro
Nada havia
Que fosse especial
A não ser que havia
Uma morte acidentada
De um inseto qualquer.

Pelos caminhos que percorro
Os homens morrem atropelados
Os insetos morrem atropelados
Sem distinção.

Pelos caminhos que percorro
Ninguém se importa mais
Com a morte anunciada
De alguns homens
De alguns insetos.

Pelos caminhos que percorro
Acabo matando
Muitos homens
Muitos insetos
Sem nenhum remorso.

Pelos caminhos que percorro
Morro toda vez que morrem
Homens
E insetos.
Morro para continuar caminhando.
Vivo para o caminho caminhar
Continuamente.

Amor de passarinho

Quando era criança
Achei um passarinho
Nunca me senti tão feliz
Envolvi-o em minhas mãos
Estavam cheias de calor
Todo amor que tinha
Era na mão que sentia.

Não demorou muito
O passarinho morreu
Sufocado pelo meu amor
Minha mão sufocou
Meu primeiro amor.

Desde então venho
Matando amores de minha vida.
O que pode ser pior
Do que o amor?

Viver eternamente
Sem ter conhecido
Amor!

Lição mal feita de poesia

Nem sei bem o que
É ser poeta
Palavra simpática
Para alguns
Algo de incomum
Que todos gostariam de ser
Alguns são integralmente
Poucos são os que vivem
Poesia.
Deixam se embriagar pelas
Emoções das palavras
Sentidas profundamente
Significadas profundamente
Seja nos perigos do amor
Seja na dor dos desatinados
Sem medo de enlouquecer
Dos desarranjos intestinais
Que a febre do calor
Pode provocar.

Nem sei se escrevo poesia
Escrevo qualquer outra coisa
Que pode ser poesia
Ou não
Que seja então coisa alguma
Desde que seja verdadeira
Não para o poeta apenas
- não para se vangloriar-
Que seja para quem vive
As agruras da vida
Em toda sua intensidade
Que no encontro do amor
Encontrou apenas
Desencontros
Mas não se aquietou.
Escrevo a desordem
De um final nem sempre feliz
Pois felicidade não passa
De uma ilusão construída
Na tela de televisão.

Escrever sobre a verdade
Pode libertar os fantasmas
Os demônios e as fadas.
Escrever poesia
Pode ser
Amar o reumatismo
Também amar a mulher
Que nunca se preocupou
Em ler poesia
Pois a vida é contradição
O amor é maldição
Que o poeta bem conhece.

Chinês escreve com água

Numa manhã, este ancião chinês resolveu compor poemas numa praça pública. Utilizou-se de um imenso pincel e molhando-o na água, passou a escrever. Poucos minutos depois, o sol fazia a sua parte: secava. Contei esta história a uma pessoa, que me disse: ele é louco! Será? Nada me sensibilizou tanto como esta imagem.

Velho pingüim de geladeira

Para que serve um pingüim
De geladeira
Senão para tornar a geladeira
Mais gelada
Para se lembrar que na geladeira
Há um pingüim
Que não serve para nada.
Mas por que teria que servir
Para alguma coisa
Senão para ficar em pé
Sobre a geladeira
Somente pra isso.

Minha vida toda
Passei
Como um pingüim de geladeira
Enfeitando aqui
Quando enjoavam de mim
Trocavam por outro enfeite
Mais interessante
Do que o velho
Pingüim de geladeira
Que ficou ultrapassado
Cheio de manchas
Uma vez caiu
Quase quebrou
Mas o pingüim resistiu
A todas as pancadas
Batida e esculachos
E persistiu com o bico levantado
Mais alto que pode.

Para que serve a vida
Como um pingüim de geladeira
Para nada
Apenas para viver
Deixem o pingüim viver
Deixem a vida viver
Ainda que possa ser
Desprezada
Deixem viver
Ainda que possa ser
Apaixonada
E lubricamente desejada
Deixem viver
Deixem as prostitutas viverem
Também a freiras
Também a mulher solteira
Que vive de um amor
Totalmente impossível
Mas vive
Por causa dele.
Por ele se vive.

Onde foram todos

Meus amigos de outrora
Onde estarão
Será que casaram
E não me convidaram
Será que morreram
E não me chamaram
Como podem morrer
Sem se despedirem
Dos outros amigos?
Como podem morrer sozinhos?
Quando percebo
Ninguém mais está
Ao meu lado.
Até mesmo a sombra
Desapareceu
Mas arrumei outras
Companhias
Algumas femininas
São as mais
Amorosas
Uma se chama melancolia
Outra se chama desolação
São companheiras
Quando a vida desce
A ribanceira
Para conhecer profundamente
A água tépida da lagoinha
E se acalmar
Com a carícia desimpedida
De uma brisa
Daquela que nunca nos deixou
Ainda que pudéssemos
Ter esquecido dela.
Tranqüilo é o sono
Da eternidade.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Anjos que não voavam

Ainda me visita
Quando menos se espera
Aquelas meninas vestidas de anjo
Que desfilavam numa procissão
Do deus morto.
Nunca acreditei que elas
Fossem anjos
Que pudessem voar
Com suas asas amarradas
Em suas costas.
Quem voava realmente
Era a minha imaginação
Quem voava era o passarinho
Livre para cair
De uma pedra que livremente
Acertou-o.
Não foi no passarinho
Foi em mim mesmo
Que passarinho
Ferido sangrou
E nunca mais pode
Voar.

domingo, 1 de agosto de 2010

As dores da criação

Criar é a grande emancipação da dor e do alívio da vida; mas para o criador existir são necessárias muitas dores e transformações. Sim, criadores, é mister que haja na vossa vida muitas mortes amargas. Sereis assim os defensores e justificadores de tudo o que é perecível. Para o criador ser o filho que renasce, é preciso que queira ser a mãe com as dores da mãe.
Em verdade, o meu caminho atravessou cem almas, cem berços e cem dores de parto. Muitas vezes me despedi; conheço as últimas horas que desgarram o coração. Mas assim o que quer a minha vontade criadora, o meu destino. Ou, para dizer mais francamente: esse destino quer ser minha vontade. Todos os meus sentimentos sofrem em mim e estão aprisionados; mas o meu querer chega sempre como libertador e mensageiro de alegria.

NIETZSCHE. Friedrich, Assim falou Zaratustra, São Paulo: Martin Claret, 2000, p.76.

As mazelas de agosto

Mal começa agosto
Que gosto estranho na boca
Como fosse uma gosma
De um fruto ainda não maduro.

Algo que preciso adoçar
Com o açúcar de sua boca
Seja em palavras suaves
Também seja pelo gosto de maçã
Dessas mergulhadas em caldo grosso.
Quem da macã uma vez provou
Nunca se esquecerá
Daquela sensação
De perdição
Que somente os cúmplices
Podem dizer
Algo.
Ou se calar.

E quem nunca se perdeu
Nas bravatas do amor
Ainda não viveu
Nenhum perigo
Suficientemente profundo
Que sangra a alma
Para nunca mais
Sarar.
Para quê sarar de algo sentido
Que torna a vida
Palatável
Um pouco do amargo
De uma dose de Fernet.
O amargo torna depois
Tudo muito doce.
O doce da maçã
De dá a vida
Que dá a morte.
Como é suave morrer
Em agosto!