Nunca andei naquelas ruas
da cidade em que percorri
de calças curtas.
Nem as calçadas
me reconhecem mais
as pedras em que marquei
um dia
cuja pisada penetrou fundo
mas outras pisadas do tempo
acabaram por apagar
os rastros que desapareceram.
As casas desapareceram
em que bebi em cada cortina
o cheiro de café quentinho
coado em coador de pano.
Não ficou a saudade
de uma cidade desconhecida
e das caras que vejo agora
quem serão realmente?
Gerações passadas
quando as caras também
foram mudando
e desconhecendo as caras
do passado.
Quando passeio
pela sacada nada mais tenho
nem amigos do passado
nem o passado existe mais.
Meus pais velhinhos
me convidam a retornar
sem que nada mais me
leve a voltar para lá.
Senão por eles
único sinal que um dia
vivi naquele lugar.
Assim posso andar
sem reconhecimento algum
sem ser reconhecido
transparente aos olhos alheios
como fantasma.
Talvez seja eu o único fantasma
que do passado saltou
e se assusta por não conhecer
ninguém.