terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Sonhos da ascensorista

Em carreira meteórica subiu na vida
Todo dia subia trinta e três andares
Dentro de uma caixa metálica
Anunciando cada andar que parava
Serviços médicos e dentários
Salas de advogados e produtores de imagem
Imagine aquela mulher vinda do sertão
Acabou por conseguir uma vaga
De ascensorista de um prédio na Paulista
Como uma comissária de bordo
Uniforme completo azul celeste
E lenço amarrado no pescoço
Não usava luvas
Os olhos levemente pintados a rímel
Uma boca suavemente cor de rosa
Sua pele queimada pelo sol
De outras terras dos canaviais
Quando terminava o turno da manhã
Retornava para casa
Mais de duas horas de coletivo
Com baldeação em Santo Amaro
Levando no rosto o sorriso
De serviço realizado
Quando tirava férias queria voltar logo
Voltar a subir rapidamente
Para o ponto mais alto
E de lá vislumbrar a cidade toda
Que era sua
Um dia teve que se aposentar
Nunca mais tomou um elevador
Nunca mais retornou onde trabalhou
Quase a metade de sua vida
Nada mais sabia fazer do que
Subir os trinta e três andares
Num passe de mágica
Num aperto de botões
E comandar a vida de todos
Passageiros
Numa viagem de primeira classe
Por alguns minutos
Alguns minutos suficientes
Para fazer dela
A dona do destino
Para o ponto mais alto
Para o ponto mais baixo
Subindo e descendo.
Um dia deixou de subir
E em seu lugar apresentou
Sua filha mais nova
Que passou a fazer o mesmo
Que sua mãe fazia.
Subir na vida!

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