terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sim

Ninguém segurou minhas pernas
quando a vontade me atravessou
e no outro lado da rua pedi
um copo de água ardente

Naquele lance do passado
minha voz nem sempre era
grave assim como hoje, mas aquilo eu
não sabia, eu aceitava

Sempre disseram sim
por trás do balcão fosco
tão solícitos, tão rudes
tão amigos, tão ingênuos

Sim. Sim sempre
Sempre há sim num balcão de bar
(Põe a mão e o copo bate o fundo,
o álcool estala doce até a tona)

Isto é assim de não segurar
o corpo vai que vai só - as lembranças
sem razão nem explicação, dócil
o corpo segue, difusa herança é a cabeça

Trago agora o copo para que me esqueça
e sinto só - o que morreu
Escondo a cara nua sobre a mesa
crente e cego de um segredo só meu

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