quinta-feira, 22 de julho de 2010

O termo do sereno

Se quisesse morrer
eu o faria,

e com presteza.
Tiraria primeiro todos os pés, apoios
suporte, bases, sapatas e fincas

Arrancaria o telhado da casa
telha por telha enfim todo madeirame
Desnecessária, a viga central seria
retirada sem demora, sem pressa

Enfim quando só restasse a pele oca
e todo vão fosse preenchido pelas estrelas celestes
Toda porta seria livre para escancarar, bater
fechar, ranger ou entreabrir fosse a hora que fosse

Então em cada rachadura consciente brotariam dentes
de leão - os convidados de honra!
Os tijolos livres para retornarem ao pó, ao pó retornariam
E os limos já não encontrariam obstáculos - limos não temem

E quando os meus olhos fossem os da natureza
eu gritaria: mãe! E mãe nenhuma viria
e nu, nu e tranquilo, tranquilo como a água
que lavaria o chão até tão puro ser só água o chão

aí, os pés encharcados,
abertos ou fechados
os olhos,
seria o mesmo
e uma profunda paz seria o ser de tudo

até acordar

no sofá da sala
com os sons da rua

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