sexta-feira, 16 de julho de 2010

As bonecas russas

Tal quais as bonecas russas
Dessas que encaixam uma na outra
Uma pequena
Outra média
Uma maiorzinha
Uma grande
E outra gigante
Cada uma é diferente da outra
Em personalidade
Cuja máscara coloca
Temporariamente
Para em seguida ser substituída
Em toda a cara
Em todo o corpo
Se pequena
Tornou-se maior
A grande sobre a pequena
Uma maior ainda
Sobre as duas menores
Em instantes aquelas
Vão sendo cobertas
Como não existissem mais
Como não tivessem mais
Cara
Nem corpo
Nem idéias
Nem amores passados
Nem história
Podemos ser a boneca de hoje
Que tem dentre si as outras
Que querem sair
Se pudessem sair
Somente na calada da noite
Em forma de sonho
Para desaparecer
Quando se faz dia
Como boneca dona de si
Acreditamos que nada mais
Existe
Do que si
Ou descaradamente fingimos
Qualquer conhecimento
De causa conhecida.

Ainda haverá um dia
Que a boneca grande
Cairá
Partirá a sua cara de pau
E de dentro todas as outras
Surgirão exigindo vingança
Por terem sido devorados
Como Saturno seus filhos.

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