terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Canção do exílio

O capim estala o seu chicote e
as labaredas dançam com o vento

O sol envolve tudo em inevitáveis espinhos de roseiras.
A sombra, como um eu mínimo, mingua e se recolhe sob nossos pés

Caminhamos sobre brasas,
expandimos nossos espaços nessa fornalha.
Com sede e a garganta seca.
Nos pés sandálias de borracha rachadas.

Nossa missão: apagar o fogo,
tratar com o vento e sorrir ao sol.
Cantamos numa língua que não conhecemos
mas cantamos como se apenas um cantasse

O calor nos reúne a tudo.
Os olhos piscam lacrimogêneos
o incenso acre do mato encandecido.
Somos a água que trazemos desde há muito tempo

Como nuvens líquidas o suor brilha em nossa pele
Nossos dentes brancos refletem a luz quase cega do céu
E sorrimos, sim, somos o fogo, a fumaça e o vento
Somos a serpente e o veneno, sim, somos deus, e somos lúcifer.

O capim repica seus tambores
as labaredas dançam e assoviam

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