quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O urubu

Mamãe, quando eu crescer quero ser um urubu
Ser a sombra negra de asas abertas lá no alto
Ter a morte como vida e a vida, como morte
Ser o verso brutal da ausência
que a tudo espia lá do céu
E em círculos, ser a espera
a espera do inevitável, o certo.

Mamãe é isto o que eu quero ser,
a sombra magra de um anjo
Quero ser a noite estampada
na face luminosa do céu risonho
Ser o amor universal
pairando sobre o destino grato

Mamãe, isso é tudo,
mas se isto eu não for
e me acontecer de ser poeta
por favor me aceite

Esquelético e de andar desequilibrado.
Com a voz louca de milênios de gerações doentias.

Solitário no interior do ovo cósmico,
a estremecer com a explosão da energia galvânica
e a cegar com a luminosidade
nauseante dos raios gama.

Deixa-me perdido, e aflito,
Deixa-me entristecido assim para eu ser poeta

⎯ Poeta Grande


(homenagem a Augusto dos Anjos)








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