domingo, 31 de janeiro de 2010

Um palhaço que ficou sem graça

Quando um incômodo nos assalta
A alma, o que podemos fazer
Além de rir das representações
De nossa vida cotidiana.

Somos palhaços quando queremos
Ser sérios.
E escorregamos nas cascas de banana
Atiradas do alto do edifício.
E escorregamos nas palavras
Empoladas que desconhecemos o sentido.
Mas mesmo assim, continuamos representando:

Um dia fui Zé
Mas Zé não existia?
Um dia fui Altair
Mas Altair não existia?

Fui jogador de futebol, de beisebol, de handebol
Fui pequeno e grande, tolo e inconseqüente.
Fui padre, o pastor, o santo e o demônio.
Fui artista de circo, sim senhor.
Fui acima de tudo palhaço
Que mudava de cara:
Arrelia, Pimentinha, Carequinha, Chicharrão.

Um dia resolvi tirar a pintura
Vi pela primeira vez minha cara
Que cara sem graça.
Sem pintura, sem nada.
Igual a tantas outras caras.
Percebi que tinha a cara do mundo.
Que pode ser tudo.
Pode ser nada.

E ri pela primeira vez
De minha vã filosofia.
Não tenho nome
Nem qualificação
Sou aquilo que quiserem que seja
Sou água
Sou pedra
Sou a vida
Sou a morte
Sou a palavra na boca dos desvairados.

O que podemos ainda ser
Se dos palhaços ninguém mais ri
O que resta do palhaço
Em sua calça balão?.

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