terça-feira, 15 de novembro de 2011

Numa sala da farmácia

Numa farmácia popular
Havia numa garrafa
De minha infância
Uma cobra verde.

Ela vivia naquela garrafa
Mergulhada no formol
Nunca saia de lá
Fingindo-se de morta
Sem se mexer
E de olhos redondos
Envidraçados.

Contemplava o mundo
Minha passagem por lá
Naquele laboratório
Em que o farmacêutico
Preparava
Suas beberagens
Pós para curar feridas
Marcadas na alma
Das mulheres pecadoras
Que amavam outros homens
Que amavam outras mulheres
Que amavam a si próprias
Suas calças de marca
Seus penteados endurecidos
Por laquê.

Nenhum comentário:

Postar um comentário