sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Último clarão na Paulicéia

Quando a tarde chega devagar
por entre as alamedas
uma sombra do passado
também descansa por entre
bancos de metal que o tempo
deixou de devorar.

Mesmo que nenhuma presença
seja sentida
toda presença se faz necessária
para que a vida continue a vicejar
e nunca a alegria desapareça
daquele rosto comum
perdido na multidão.

Por onde quer que se vá
errando pelos meandros
das esquinas sujas
disputadas pelas prostitutas
e bêbados vagabundos
uma solidão estampada
nos gestos lânguidos
pelos desiludidos da vida.

Nenhuma esperança existe
suave esperança
dos que esperam
ajuda divina.
Se divino fosse seria
humanamente imperfeito
e São Paulo seria
a terra em que sempre vivi.

Ainda que desconheça as faces
que encontro pelas ruas
sempre as conheci
cumprimentei às vezes
não reconheci às vezes
em insípido desprezo.

Antes que a noite venha de vez
e a lua venha dançar uma valsa
que as casas de baile deixaram de ter
o que restou do amor
senão o testemunho dos muros
que se calaram para sempre.
Em nenhum outro lugar
sinto-me como aqui
Nunca saí daqui
em que plantei sonhos
que pensei serem realidades
foram com o vento passageiro
e também o tempo se foi
passageiro também
foram-se alguns amigos
que juntos sonhamos.
Desistiram da vida
e pararam de sonhar.
Por teimosia insana continuo
a sonhar com os amigos
que restaram
outros amigos que somaram
aos mesmos sonhos
sonhados por mim.
Esta cidade cabe dentro
de um mesmo sonho
que outros também sonham.

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