Por um instante sequer
Naveguei em terras estranhas
Nestas longínquas miragens
Em que divisa
A vista em que alcança
Nem precisei ir tão longe
Pois nunca saí do lugar
Em que sempre fiquei
Ainda que estivesse
Nas geleiras de Patagônia
Em que os marrecos escurecem
Ao anoitecer
E os peixes imóveis
Morrem nas águas salgadas
Das lágrimas dos desesperados.
Onde quer que vá
Não dou um passo adiante
E continuo rodando
Em voltas rodopiando
Como um dançarino turco
Do culto do sufi.
Onde quer que vá
Sempre estarei
Nadando na bolsa plástica
De plasma
De placenta transparente
E assistindo sempre
O mundo que me chega
Em imagens de fogo
De fogo que queima
Do fogo que ainda arde
Arde e incendeia.
Não poderia ser
Diferente
Nem seria...
domingo, 29 de julho de 2012
sexta-feira, 27 de julho de 2012
Pretérito perfeito
O que sobrou de ontem
Senão um monte de cinzas
Que ainda quentes estão
Podem queimar profundamente
E marcar a pele
Numa queimadura
De segundo grau.
Não mexa naquilo que
Descansa
Numa dança imóvel
Do vento.
Senão um monte de cinzas
Que ainda quentes estão
Podem queimar profundamente
E marcar a pele
Numa queimadura
De segundo grau.
Não mexa naquilo que
Descansa
Numa dança imóvel
Do vento.
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Liberdade da incerteza
Um pássaro,
quando preso,
Não é da
pela liberdade que canta em solidão
Atrás das
grades que lhe impõe o nome “lar”.
É pela
incerteza que a ave chora,
Canta
amargamente.
Confinado
num mundo programado
Cheio de
certezas, metódicas como um relógio,
Sequenciais,
intermináveis,
Ininterruptas
e infalíveis.
Ah! A
certeza.
Não há nada
mais repugnante que a certeza,
Para um
pássaro de horas marcadas,
Que sabe
onde, quando e como vai morrer.
terça-feira, 24 de julho de 2012
Fuga de si mesmo
Nada pode ser mais
Fugaz
Do que o fim do gás
De uma emoção
Que se tornou
Ultrapassada
Motivo de risada
Dos que ignoram
Toda miséria
De suas existências
De um mundo que tem
Razão
Mas sucumbe
De um mal maior
Esquizofrenia.
Fugaz
Do que o fim do gás
De uma emoção
Que se tornou
Ultrapassada
Motivo de risada
Dos que ignoram
Toda miséria
De suas existências
De um mundo que tem
Razão
Mas sucumbe
De um mal maior
Esquizofrenia.
Uma ausência...
Dos amores passageiros
De passagem ficaram
De passagem se foram
Em instantes!
Mas algo ficou
Para não se ir
Jamais
Uma tristeza
Que insiste
Criar morada
Em minha casa.
De passagem ficaram
De passagem se foram
Em instantes!
Mas algo ficou
Para não se ir
Jamais
Uma tristeza
Que insiste
Criar morada
Em minha casa.
Sombras da memória
Como se saltassem do passado
São rostos embranquecidos
De fantasmas
De rugas e formas
Que não se reconhecem mais
Nem estima
Daquilo que agora
Invadem meu quarto
Guardado pelas chaves
Fazem sentido.
Assim visito
Com cautela
Um álbum de retratos.
São rostos embranquecidos
De fantasmas
De rugas e formas
Que não se reconhecem mais
Nem estima
Daquilo que agora
Invadem meu quarto
Guardado pelas chaves
Fazem sentido.
Assim visito
Com cautela
Um álbum de retratos.
domingo, 22 de julho de 2012
Encaixe
O que são os encaixes?
Nesse mundo, as coisas sempre devem encaixar-se, quase como
regra.
Uma busca infiel, por uma vida encaixada, que possa ter todas as suas frestas e arestas completadas por algo, seja a si próprio, seja o outro.
Uma busca infiel, por uma vida encaixada, que possa ter todas as suas frestas e arestas completadas por algo, seja a si próprio, seja o outro.
As coisas devem ser sempre encaixadas para que sejam satisfatórias. Sempre deve haver um encaixe inverso, seu complementar, naquela forma ideal.
Onde encontrar este complemento?
A luz encontra a escuridão, o vermelho encontra o ciano, o bule encontra a água e a colher encontra o mel.
Eu? Eu encontro a própria vida, refletida num papel em
branco diante do meu rosto.
sexta-feira, 20 de julho de 2012
Vida Aventureira
Ah! O peso destruidor que esta vida mal vivida me presenteou.
Amarrado à uma cadeira que só tem quatro pernas, numa mesa de canto, onde apoio textos centopéiecos que me lançam numa explosão de sensações e vontades curiosas.
Amarrado à uma cadeira que só tem quatro pernas, numa mesa de canto, onde apoio textos centopéiecos que me lançam numa explosão de sensações e vontades curiosas.
Ah! A vontade de correr para um destino que ainda não sei, com os pés descalços na orla da mais isolada das praias, longe daqui, onde a rua corta meus dedos.
Mas tudo isso não passa de um sonho de olhos abertos e que estão vidrados nas histórias daqueles meus heróis que puderam caminhar o mundo e fazê-lo suas casas.
Querer ser como eles me trás o medo de ser como eles, desbravadores e incertos quanto seus finais.
Quem diria eu, poder não saber onde cair morto.
Amigos e diferentes
Ainda que na maior discordância
Meu amigo
Há de continuar amigo.
Mas se as ideias
Não forem as mesmas
Se as ideias
De longe forem mais
Importantes
Do que as amizades
Então teremos problemas
Sérios problemas
De vaidade
De simples vaidade
Que se alimenta nossa ilusão.
Meu amigo
Há de continuar amigo.
Mas se as ideias
Não forem as mesmas
Se as ideias
De longe forem mais
Importantes
Do que as amizades
Então teremos problemas
Sérios problemas
De vaidade
De simples vaidade
Que se alimenta nossa ilusão.
Forma são
O que forma a formação das formas?
Se algo forma, indubitavelmente por outro foi formado, que anteriormente também formado por um mais, ele foi.
Eu vejo a forma que me forma a partir de sua forma e percebo que eu próprio sou a forma que me forma a partir de sua própria forma. Minha forma é a não forma, formada por uma forma que é a não forma da outra forma, que também é a não forma de uma não forma.
A forma que me forma é a forma que eu formo, que formará e que formarão as formas que sempre serão a não forma de uma única formação.
Eu formo.
Tu forma.
Ele e ela forma.
Nós, forma.
Tu forma.
Ele e ela forma.
Nós, forma.
Tudo é forma, de uma só forma, sendo a não forma a forma desta forma.
Uma nova religião
Sempre a minha verdade
Deve prevalecer
Bem que as outras verdades
Não passam de futilidades
Se comparadas à minha.
Defensor dos bons princípios
Dos direitos dos menos favorecidos
Também dos mais favorecidos
Do direito à vida dos abortados
Do direito à morte dos desenganados
Do direito de não sentir o cheiro do cigarro
Do direito de fumar
Do direito de não sentir fome
Dos direito dos animais
Do direito dos anões em pagar meia passagem
Na sessão do cinema
Do direito dos políticos em negociar
Em causa pública
Em causa própria
Do direito do funcionalismo
Folgar um pouco mais
Do que os que não são gozam
Do mesmo privilégio
Do direito adquirido
Do direito a ser ainda adquirido
Todos falam em direito
Como se houvesse apenas direitos
Se assim fosse
Direito!
domingo, 15 de julho de 2012
Uma questão de tensão
Apenas assistiu
Sem nada entender
Dois adultos discutindo
Seus pontos de vista
Defendendo a verdade
As suas próprias verdades
E assim julgavam ser
Sempre assim
Os donos da verdade
E as guerras começaram
Sempre em nome da verdade
E as guerras santas começaram
Em nome dos santos
Enquanto num canto
Uma criança não sabia
O que no mundo acontecia
Um bombardeio partia
Carregando em suas asas
As almas dos mortos
Por um capricho
Humanamente aceito
Humanamente desprezível.
Sem nada entender
Dois adultos discutindo
Seus pontos de vista
Defendendo a verdade
As suas próprias verdades
E assim julgavam ser
Sempre assim
Os donos da verdade
E as guerras começaram
Sempre em nome da verdade
E as guerras santas começaram
Em nome dos santos
Enquanto num canto
Uma criança não sabia
O que no mundo acontecia
Um bombardeio partia
Carregando em suas asas
As almas dos mortos
Por um capricho
Humanamente aceito
Humanamente desprezível.
sexta-feira, 13 de julho de 2012
Melancólica somente
Será apenas uma palavra
Melancolia
Ou será invenção dos psicanalistas
Ou da pequena burguesia
Será melancolia
Uma palavra bonita
Encontrada num canto
Da página esquerda
De um dicionário
Ultrapassado
Que perdeu validade?
Talvez seja
Algo usado pelos poetas
Desesperados
Pelas palavras criadas
Para tornar a vida
Mais interessante
Incessantemente
Buscada
E perdida.
Melancolia
Por perder
Melancolia
Por achar.
Melancolia
Ou será invenção dos psicanalistas
Ou da pequena burguesia
Será melancolia
Uma palavra bonita
Encontrada num canto
Da página esquerda
De um dicionário
Ultrapassado
Que perdeu validade?
Talvez seja
Algo usado pelos poetas
Desesperados
Pelas palavras criadas
Para tornar a vida
Mais interessante
Incessantemente
Buscada
E perdida.
Melancolia
Por perder
Melancolia
Por achar.
terça-feira, 10 de julho de 2012
Ao encontro do canto das sereias
Num jogo de damas
Perdi mais do que as pedras
Que não passavam de artimanhas
Para enganar os desavisados
Estes marinheiros de primeira viagem
Que confundem as ondas
As espumas levantando-se
Em cristas de galo
Como fossem sereias
Destas mesmas
Que enganaram Odisseu
Ou deixou-se enganar
Só para beber de suas bocas
Um hálito agradável
Das oliveiras.
domingo, 8 de julho de 2012
Visita ausente
Num canto da janela
A noite vai penetrando
E fria chega
Por cima dos pelos
De um braço
Que apenas descansa
Espera um abraço
Que não chega
O que me esquenta
Continua sendo
Minha blusa velha
Que perdeu a linha
Meu lápis duro
Que me arranha.
A noite vai penetrando
E fria chega
Por cima dos pelos
De um braço
Que apenas descansa
Espera um abraço
Que não chega
O que me esquenta
Continua sendo
Minha blusa velha
Que perdeu a linha
Meu lápis duro
Que me arranha.
Uma dor sentida no frio
Há uma dor que me visita
De manhã
De tarde
De noite
Pudera ser uma dor amorosa
Longe disso
A dor que me assola
É a dor da gota
Que me amola
No pé esquerdo
Isento de romantismo
Isento de qualquer lamento
Uma dor terrena
Epidérmica
Oceânica
Vulcânica
Uma dor desiludida
Pois até a ilusão foi perdida
Nada mais resta
Que salve
Só fica
Uma dor enjoada
Fria e desbotada
Uma dor ordinária
Que nem marca deixa
Senão a sensação
De um imenso vazio
O vazio da dor sentida.
De manhã
De tarde
De noite
Pudera ser uma dor amorosa
Longe disso
A dor que me assola
É a dor da gota
Que me amola
No pé esquerdo
Isento de romantismo
Isento de qualquer lamento
Uma dor terrena
Epidérmica
Oceânica
Vulcânica
Uma dor desiludida
Pois até a ilusão foi perdida
Nada mais resta
Que salve
Só fica
Uma dor enjoada
Fria e desbotada
Uma dor ordinária
Que nem marca deixa
Senão a sensação
De um imenso vazio
O vazio da dor sentida.
sexta-feira, 6 de julho de 2012
Caminhos de pedra
As pedras atiradas pelo chão
Também falam
Numa linguagem silenciosa
Falam a respeito da dureza
Dos corações
Que não mais se emocionam
Nem se dão ao trabalho
De chorar mais.
São de pedra as estátuas
Que enfeitam as praças
Que sentem o calor
Do dia.
É a friagem da tarde
Que tornam
Os que não são de pedra
Frios.
Mais frios do que
O frio desta noite.
Também falam
Numa linguagem silenciosa
Falam a respeito da dureza
Dos corações
Que não mais se emocionam
Nem se dão ao trabalho
De chorar mais.
São de pedra as estátuas
Que enfeitam as praças
Que sentem o calor
Do dia.
É a friagem da tarde
Que tornam
Os que não são de pedra
Frios.
Mais frios do que
O frio desta noite.
A parede branca
Como é silencioso a noite
Em minha sala de leitura
Em que minhas lembranças
Nada mais são
Do que lembranças
Mas que ainda
Não saíram da minha mente
Sou lembrança no presente
Sou o passado reinventado
Nas paredes brancas
De minha existência
Efêmera com certeza
Bolhas de sabão
Subindo acima do portão
Por entre as lanças
E ferros indomados
Sou também a incerteza
Que navega num barco
Furado!
Em minha sala de leitura
Em que minhas lembranças
Nada mais são
Do que lembranças
Mas que ainda
Não saíram da minha mente
Sou lembrança no presente
Sou o passado reinventado
Nas paredes brancas
De minha existência
Efêmera com certeza
Bolhas de sabão
Subindo acima do portão
Por entre as lanças
E ferros indomados
Sou também a incerteza
Que navega num barco
Furado!
Quando o vento dobra
Ainda carrego em meus braços
Os arrozais de Kumamoto
Que ao vento da primavera
Dobravam-se em reverência.
Ainda enterro minhas pernas
Naqueles alagados
Cujo barro tingia de negro
As pernas das velhas
Que curvadas avançavam na vida.
Vistos do alto
Das montanhas dos pinheirais
Somente do arroz
Sinto saudades
Que verdes balançavam
Uma brincadeira
De criança levada.
Os arrozais que sempre
Estarão comigo
Que em suas águas lamacentas
Enterro meu corpo inteiro.
Os arrozais de Kumamoto
Que ao vento da primavera
Dobravam-se em reverência.
Ainda enterro minhas pernas
Naqueles alagados
Cujo barro tingia de negro
As pernas das velhas
Que curvadas avançavam na vida.
Vistos do alto
Das montanhas dos pinheirais
Somente do arroz
Sinto saudades
Que verdes balançavam
Uma brincadeira
De criança levada.
Os arrozais que sempre
Estarão comigo
Que em suas águas lamacentas
Enterro meu corpo inteiro.
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